sábado, 1 de janeiro de 2011

Dia 01/01/2011 - Começou bem, terminou mal (Puno, Uros e o pulgueiro).

Primeiro dia de 2011, um sábado, como fui dormir cedo, acordei mais cedo ainda, e eu estava curioso para perguntar ao André como tinha sido a passagem de ano na Plaza de Armas.  Mas como ele dormia tranquilo, resolvi sair sem fazer barulho.  Saí caminhando pelas ruas quase vazias, deviam ser por volta das 7 da manhã, fui até a Plaza de Armas, no caminho haviam alguns "borrachos" ainda bebendo, e um policial os observava de longe.
Entrei na Catedral onde estava sendo celebrada uma missa, em espanhol claro, a igreja estava lotada, aproveitei para pedir proteção para o nosso retorno, ainda me preocupava a Bolívia.
Voltei para a pousada, o dia estava começando a ficar ensolarado, tomei café, pois quis deixar o André dormir o máximo. De fato quando ele acordou estava animado foi aí que ele me contou da Plaza de Armas, da chuva da correria me volta da praça, etc.


Partida, na frente da pousada, adeus Cuzco.

Fomos buscar as motos no estacionamento, paramos elas bem na frente da pousada, as ruas estavam quase vazias.  Daí foi fácil descer com as bagagens e montá-las nas motos. Um dos casais de brasileiros que havíamos conhecido na agência de turismo, estava na pousada também. Eles nos contaram das agruras para voltar de Ollantaytambo, pois eles ficaram esperando o ônibus (que a agência prometeu) só que este não apareceu, enfim, eles chegaram de volta a Cuzco à meia noite.  Ainda  bem que nós rachamos aquele táxi do "El Violador"!
Saímos fácil com as ruas vazias, logo estávamos na Extensión de La Cultura, paramos em um posto, abastecemos e calibramos os pneus. Que diferença do dia da chegada, passamos rápido e logo já estávamos saindo da cidade.

Ruta 3S, rumo sul
Minha preocupação com todo o movimento que encontramos na vinda, agora era infundada, todos estavam ainda dormindo, até os cachorros. Daí a viagem rendeu, passávamos por um vilarejo atrás do outro direto, sem interferências, a temperatura estava agradável e o tempo firme, dai que, não paramos em lugar algum.

O tempo estava ótimo e a estrada livre, tocamos 250 km sem parar !
Passamos por Abra la Raya, esta tocada foi de 250 km, fomos parar somente em Ayaviri, onde entramos na rotatória antes da linha do trem, e logo ali tem um posto pequeno. Abastecemos, fazia um sol quente, o André foi comprar água numa vendinha do outro lado da rua, voltou com dois pãezinhos de leite nas mãos que lhe deram de troco, ficamos  em pé ao lado das motos, comendo os pães puros.
Montamos nas motos para mais uma tocada, o trecho até aqui tinha rendido muito, o André estava muito animado, eu não muito, no fundo pensava até em seguir direto para La Paz naquele dia mesmo, na realidade não me animava mesmo era voltar à Puno.
A estrada com sol estava ótima, daí que logo chegamos ao trecho esburacado, antes porém cruzamos com 4 motos mid-trail, como as nossas, todas iguais mas não pude identificar quais eram, talvez Kawazakis KLR, o pessoal bem equipado, todos iguais. Nos cumprimentamos de passagem, eles subiam para Cuzco.
No trecho de buracos, reduzimos a velocidade, mas passamos bem, e foi quase no final deste trecho que ia lá na frente uma moto Custom, claro que logo a alcançamos e ultrapassamos na buraqueira. Era uma Shadow preta, o piloto e a garupa em roupas de couro, acenamos e seguimos.  Logo tive impressão de que ele não gostou de ser ultrapassado, enrolou o cabo e veio atrás, como os buracos acabaram, ele abriu que nem um doido e foi embora ultrapassando uns carros que iam à frente e sumiu.
Logo chegamos à Juliaca, o André que não filmou meu stress na ida, agora estava a postos para isto ao cruzarmos esta "linda" cidade. Porém, como era feriado, havia bastante movimento, mas nada comparado ao caos da ida.
Logo que passamos a primeira rotatória, vimos à direita, parados no lado da avenida o piloto e a garupa da Shadow, ela acenou e ele fez um sinal que não entendi, acho que era para parar, de qualquer forma, buzinamos, cumprimentamos e passamos direto.


Olha o casal da shadow, na calçada à direita

Tuc-tucs, cruzando a "linda" Juliaca

Mesmo com a cidade livre, perdemos algum tempo no "miolo", com algumas vans e "tuc-tucs", mas nada que justificasse stress. Quando saímos do outro lado, depois da avenida de duas pistas onde começa novamente a estrada, havia em um campo à esquerda uma festa, pessoas vestidas com trajes típicos dançando, parados ali filmando tudo, havia uma outra turma de moto. Ví pelo menos umas três BMW GS, eu e o André olhamos da estrada, mas não paramos, o André tinha em mente visitar as ilhas flutuantes do Titicaca.

Após Juliaca avistamos novamente o Lago Titicaca
Finalmente chegamos à Puno, o André animadão e eu só de ver a cidade já fiquei de mal humor.
O André insistia para irmos por um caminho e eu por outro, claro que o André estava certo, eu é que estava rabugento.
Assim, ele achou uma rua que desceu direto até o cais, lá muito movimento, gente para todos os lados passeando aproveitando o sol, muitas barracas com comida, um clima alegre. Conseguimos parar com as motos bem na beira do cais, uma senhora que vendia passagens para passeios de barcos, nos propôs deixarmos as motos ali mesmo, como estávamos com as bagagens eu não concordei, ela disse que cuidava (la garantia soy yo).
Como os barcos saíam até as 16:30 h propus para o André encontrarmos uma pousada, pois eu deixaria a moto ali, mas sem as bagagens, assim a mesma senhora nos indicou um hotel próximo. Fomos lá, era na avenida perpendicular ao cais, há uns 500 m de lá.  Um hotelzinho feio, o André foi lá e resolveu, 20 soles sem água quente ou 25 com, na pressa fechamos e deixamos as bagagens, larguei as minhas no quarto quase de olhos fechados, o lugar era terrível.
Foi tudo muito rápido, do outro lado da rua um estacionamento grande de terra, cheio de Tuc-Tucs, vans e outros bichos, 3 soles por dia!   Tudo muito barato não é?   Bem, fomos à pé rapidinho de volta ao cais, a tal senhora não estava mais lá, fomos direto nas cabines de passagens, 16 Soles cada, pagamos e já fomos para o primeiro barco.
Ficamos admirados e sem entender o porque de tantos barcos de passeio, a maioria ancorados, tem tanta demanda assim?
Olhem a quantidade de barcos, cais de Puno.
Embarque
Rumo ao canal, o cais de Puno ficando para trás
Estava sol, mas ventava forte.
Finalzinho da tarde, barcos voltando
O lago Titicaca, na frente de Puno, forma uma baía que possui uma barreira de juncos (totora), desta forma parece que são dois lagos, um pequeno e um grande. Há um canal formando uma grande avenida para os barcos, ligando a baía e a parte principal do lago. O nosso, era um barco simples, mas preparado para passeios, usava um motor Ford V8, que ficava quase à mostra na parte traseira. A tarde estava muito bonita, porém no lago o vento soprava forte.
De longe víamos umas construções metálicas em ilhas, eu brinquei com o André, vamos chegar lá e encontraremos um condomínio, talvez até um shopping flutuando no lago.  Minha brincadeira tinha lá um fundo de verdade.
Lembram daqueles dois casais de brasileiros que conhecemos na agência em Cuzco? Bem, ele nos disseram que visitaram o lago no lado boliviano, mas que era tudo uma fajutagem, as ilhas lá eram construídas sobre tonéis, era tudo armação para turistas. Já do lado peruano era tudo de verdade, pois foi o que viemos ver.


Primeiras ilhas
Dá para perceber que é para turista ver
As ilhas ao contrário do que eu imaginava, eram pequenas e não estavam cheias de gente, o barco apontou para uma delas, onde duas mulheres jovens sorrindo pegaram a corda da proa e ajudaram a encostá-lo.
Descemos e, de fato andando sobre os juncos dava para sentir o balanço sob os pés.  Um homem jovem, nos reuniu em um círculo e começou uma palestra de meia hora.  Explicou como eram construídas as ilhas, e como era viver sobre elas, cada pequena ilha pertence a uma família ou mais, e tem seu chefe, ele era o chefe daquela onde estávamos, chamada Suma Pacha.  Eles são os Uros (comunidade indígena que habita o lago entre o Peru e a Bolívia).  No final da palestra ele pegou uma corda onde havia um sapo feito de barro amarrado em uma das pontas, desceu o mesmo em um buraco e foi deixando a corda ir, quando parou ele pegou uma parte e mediu entre o ante-braço e o ombro, disse: aqui tem um metro. Depois foi puxando e contando cada medida, até que chegou a 16 metros, ele disse que o sapo não tinha chegado ao fundo, tinha parado no juncos lá embaixo, daí o total até o fundo mesmo era de uns 20 metros bem onde estávamos.
As ilhas são ancoradas, pois do contrário viajariam soltas pelo lago, eles até fazem isto quando querem, mas são pequenos reposicionamentos apenas.

Cadê o povo ?
Apareceram, estão felizes, turistas chegando...
Ah! vocês achavam que eu não viria ?
O lago Titik aka (conforme explicação do chefe Uro) tem 70 km de largura e 170 de comprimento, na parte mais funda a profundidade chega a 260 metros, mas a média é de 150 metros e o lago fica a 3850 metros de altitude. O lago está dividido entre Peru e Bolívia, porém  a parte peruana é ligeiramente maior. Segundo ele, existem grandes ilhas flutuantes distantes no lago, onde habitam comunidades de Uros que não querem contato com estranhos, vivem isolados.
Ao contrário deles que ali estão muito integrados, eu particularmente acho que aqueles por ali, nem sequer habitam mesmo as ilhas. Devido à proximidade com Puno e a quantidade de pequenos barcos com motor de popa que vimos, eles devem ficar um tempinho por ali, mas devem ter residência fixa em Puno.
Ele nos mostrou as choupanas e apetrechos, mas o que realmente lhes interessava era que comprássemos algo, eles vendem artesanatos, brincos, colares, roupas, tapetes, e ficam o tempo todo te forçando a comprar algo.
O chefe Uro da ilha Suma Pacha, fazendo a palestra
Maquete de como são feitas as ilhas, totora, juncos e o fogão Uro
Comprem, comprem !


Venham passear na minha Mercedes !

Criadouro de peixes

Tudo muito arrumadinho

As construções metálicas ao fundo das ilhas, eram segundo o chefe, escola e posto de saúde, construídos pelo ex-presidente Alberto Fujimori, incluindo os painéis de energia solar.
Nós ficamos decepcionados, tínhamos uma visão romântica da coisa, que na realidade ali é puramente comercial.
O céu começou, exatamente como quando passamos por Puno na ida, a ficar sombrio no lado oeste, era de novo visível a massa de nuvens escuras vindo e empurrando o lindo céu azul para o leste, logo ficou tudo nublado.

O céu de Puno, observem à esquerda a "massa" empurrando o belo dia à direita.
Chefe da outra ilha, turistas, venham!
O barco nos levou a outra ilha, onde o chefe nem sequer fez menção de mostrar nada, estavam ele e mais duas pessoas que comiam no seu "restaurante". Ficamos andando livremente por , mas não era agradável o lugar, a única diferença era uma gatinha preta, muito sapeca.
Com o céu fechado, um vento gelado começou a soprar do oeste, ficamos esperando o barco nos levar de volta à Puno.  Entramos no mesmo com cara de decepcionados, como o barco navegava na direção oeste, o movimento do mesmo, somado ao do vento, formavam uma corrente gélida que atravessava a embarcação.  O barco era conduzido por dois garotos, o que ia no leme resolveu deixar a namorada pilotar, ela devia ter uns 15 anos.


Não mora ninguém aqui

A gatinha e o "restaurante"


Me despedindo da minha amiguinha, hora de partir.
O problema é que ela não tinha a mínima noção do "tempo" do leme, dai que o barco ia navegando em zig-zag, aumentando enormemente o tempo da viagem, o que com aquele frio, estava nos deixando putos.
Quando chegamos ao caís, não havia mais ninguém, tudo fechado, estranha sensação, pois havíamos partido dali umas duas horas atrás apenas, no meio de uma grande agitação.
Felizmente, um "sujinho" ainda estava aberto, daí paramos para comer, até ali só tínhamos comido os pãezinhos de leite no meio do caminho. Bem, pedimos novamente truta, porém antes nos foi servida uma sopa meio branca, que de tão rala que era, parecia água de arroz lavado. Ok, a truta matou nossa fome.
Não havia mais nada a fazer por ali a não ser ir para o hotel, daí que pudemos observar bem o buraco que era.
O quarto no térreo, tinha uma janela para uma rua lateral, parecia que as pessoas que passavam por ali falando iam entrar no quarto.  No quarto tudo era "imundo" e quebrado, fazia um frio daqueles e não havia obviamente nada para aquecimento. O André foi então tomar banho, julgando que água quente lhe faria bem, contudo após muito esperar com o chuveiro aberto, nada de a água esquentar.
Eu já tinha me escondido debaixo das cobertas sujas, seguramente eu sem tomar banho estava mais limpo que qualquer coisa naquele quarto. O André foi pedir ajuda e a recepcionista veio e disse que tinha que esperar mais, o André resolveu entrar no chuveiro, eu só escutava ele gritando, fingindo que estava cantando.
Ele disse que nunca passou tanto frio na vida, eu ria da situação. Quando finalmente apagamos a luz para tentarmos dormir, descobrimos que a luz do corredor do hotel, iluminava todo o quarto por uma abertura junto ao teto. O André levantou e foi lá pedir para apagar a luz, ok feito, só que não durou muito tempo, ouvimos vozes no corredor e a luz ficou acesa novamente, deixa para lá.
Foi aí que o André me falou que quando tinha ido lá apagar a luz, tinha uns caras na recepção com cara de justiceiros, ficaram encarando ele.
Que beleza, a aura do lugar estava entre o inferno e o purgatório, daí que eu não conseguia dormir.  Devo ter conseguido cochilar devido ao cansaço, mas sei lá que horas eram, acordei com um barulho na rua. Alguém bem ali na janela, raspava com uma pá, ao mesmo tempo ouvia barulho de objetos de vidro quebrando. Como eu havia visto um monte de entulhos na rua ao lado, concluí que alguém os recolhia, mas àquela hora da noite?
Resultado, passei o resto da noite e madrugada olhando para o teto e as paredes imundas daquele muquifo, sentindo umas coceiras, deviam ser pulgas tentando me levar para fora, primeira noite de 2011!


Rodamos neste dia 420 km em aprox. 5 horas.   Cuzco -> Puno, Peru.
Hotel não sei o nome (acho que nem tinha).
Não lembro onde fica e nem quero lembrar!

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