terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Dia 04/01/2011 - Era para ser Cochabamba, mas fomos até Santa Cruz (Descendo os Andes).

Levantamos não tão cedo, uma vez que iriamos percorrer um trecho pequeno de 380 km até Cochabamba, ficando para o dia seguinte o trecho de 500 km entre Cochabamba e Santa Cruz de La Sierra para, aí sim no outro dia o incógnito trecho até Corumbá na divisa entre Brasil e Bolívia.
Tomamos o nosso farto café, depois colocamos a "armadura" impermeável e com a ajuda de dois mensageiros, descemos nossas tralhas, já devidamente arrumadas.  Como sempre o André fixou tudo na moto em dois minutos, enquanto eu continuava me debatendo com elásticos e outros pequenos probleminhas. Sendo assim pedí para o André ir até a recepção buscar o recibo e o troco. Havíamos pago os 180 dólares com duas notas de cem, a recepcionista disse que só nos daria o troco no momento do check-out.  Assim eu ganhei um tempinho para finalizar a fixação da minha bagagem.
O André voltou para me avisar que eles queriam dar o troco em bolivianos, eu insisti que, se pagamos em dólar, queria o troco em dólar. O André voltou lá, depois de um tempo voltou com os 20 dólares do troco.
Como a rua na saída do hotel é mão única, tivemos que contornar um quarteirão, passamos em frente ao prédio do comando da FAB (Fuerza Aérea Boliviana) e já saímos na Av. 16 de Julio, eram aproximadamente 07:30 h da manhã e o trânsito de Vans estava um pouco mais ameno do que no dia anterior. Assim, logo conseguimos entrar na via rápida que sobe para El Alto.  O céu estava nublado e fomos no nosso ritmo, apenas incomodados por alguns carros mais apressadinhos que forçavam passagem entre os outros. Logo passamos pelo pedágio e sob a Av. Juan Pablo II na praça do Chê Guevara aí o trânsito travou, parou mesmo e não conseguíamos passar por entre o mar de vans, eles não possuem esta "cultura" do corredor, então não adianta se estressar.

Só depois de muito tempo é que conseguimos ver que, das 4 pistas, eles fecham duas com cones, estranhamente nestas duas pistas à direita ninguém transita, apenas uma ou outra van entra e para em algum lugar.  Lá na frente havia um guarda que, em uma faixa de pedestres, parava o trânsito para as pessoas passarem. Ah! Entendi. Eles afunilam todo mundo nas duas faixas da esquerda, assim o guarda consegue parar o trânsito para as pessoas atravessarem, acho que se as pistas estivessem todas liberadas até ele seria atropelado!
Esta é a Av. 6 de Marzo, que passa perpendicular à cabeceira leste do aeroporto El Alto, de relance pude ver alguns clássicos abandonados, um Douglas DC-3 e um Curtis Commando, gostaria de ter visitado este aeroporto. Esta avenida vira a ruta 01, levamos mais de meia hora para vencermos um trecho de apenas 5 km. Antes de se tornar uma ruta, a avenida passa por vários cruzamentos onde, os caminhões impõe a sua "prioridade de tamanho". Logo no inicio da ruta paramos para tomar água, colocar as luvas e relaxar, foi uma saída cansativa de La Paz.


Ruta 01, La Paz ao fundo junto à Cordilheira Real
Saindo de La Paz, 100 km depois passamos "dentro" de Patacamaya e mais 20 km por Sicasica, foram no total 200 km até Caracollo, passando por Panduro e Villa. Em Caracollo, fica o entroncamento das rutas 01 (La Paz - Oruro) e 04 (Oruro - Cochabamba). Todo este trecho até Caracollo, é percorrido no altiplano numa altitude de média de 3900 m.  Como o nome diz, além de alto é quase plano, daí cortamos grandes retas com suaves aclives e declives. A pista simples da ruta 01 possui um trânsito razoável de ônibus e caminhões, por isto sofremos bastante com a fumaça de óleo diesel que eles emanam. Claro que, naquela altitude, eles também tem o problema da queima incompleta do combustível devido à carência de oxigênio. Daí que todos emitem uma enorme quantidade de fumaça negra.
Eu particularmente estava sentindo os olhos arderem e uma dificuldade maior ainda para respirar, pois ficávamos por muito tempo atrás de caminhões em fila, aguardando um momento seguro para ultrapassá-los.
Até aquele dia não tínhamos sentido maiores dificuldades de perda de rendimento nas motos por causa da altitude, porém em um momento, fui tentar ultrapassar um carro que estava devagar, o motorista de sacanagem acelerou quando eu estava na esquerda. Não consegui ultrapassá-lo e nem ele conseguiu distanciar-se, foi ali então que encontrei o limite do motor a 4000 m de altitude...


Andei um bom trecho atrás deste ônibus
Desde que entramos na ruta 01 o sol apareceu, e estava um dia muito bonito, em Caracollo, antes da saída da ruta 01, existe um posto de combustível. Paramos para abastecer e esticar um pouco as pernas, havia ali duas cachorrinhas, uma muito tímida, a outra não, pois parava na porta dos carros que estavam abastecendo e fazia cara de pidona. Me lembrei que tinha uma barra de cereais maior do que o normal, então a dividi entre elas.
Parece que todo mundo pára neste posto, nós fizemos em uma puxada só este trecho, daí que demoramos um pouco mais por nesta parada. Fiquei olhando as cachorrinhas e pensando na quantidade destas criaturinhas espalhadas pelo mundo, vivendo no limite, sem a assistência que tanto procuramos dar aos nossos em casa.
Voltamos para a estrada e a 500 m do posto está o entrocamento, bem ali começa a ruta 04, só para constar, de lá, do entroncamento, até Oruro ao sul são só mais 40 km e, até o famoso Salar do Uyuni mais 300 km. Não planejamos visitar o salar, não desta vez.


A bifurcação em Caracollo, saímos da ruta 01 e entramos na 04
Entramos na ruta 04 seguindo exatamente o sentido leste em uma reta de 15 km até Querani, depois começam as curvas e a subida da serra. Lembrem-se que os Andes sempre possuem uma barreira de 4500 a 4600 m de altitude entre o leste e o oeste, na reta inicial da ruta 04 estávamos a 3800 m, daí tínhamos a barreira para transpor, antes de "cairmos" do outro lado a 2550 m em Cochabamba. Parece bobeira, mas não é, uma diferença de 500 m para mais, já em grandes altitudes, faz uma diferença enorme!

O trecho inicial da ruta 04 é lindo

Este trecho estava lindo, iluminado pelo sol e, a partir de Querani, foram 150 km de intermináveis curvas, fortes subidas e enormes descidas. Eu não me sentia muito bem, seguramente por ter inalado tanta fumaça dos caminhões, o que por sorte parece não ter afetado o André que estava animado e puxando o ritmo.
Um pouco antes de Estância Huayalluma, em uma forte subida, passamos por uma feira às margens da estrada, havia pilhas de peles de lhamas, muita gente e claro, muitas lhamas vivas. Parecia um leilão, pois havia um equipamento de som onde alguém falava o tempo todo.  Nós não paramos, só diminuímos a velocidade e observamos, depois nos arrependemos por não termos ido lá fotografar. As vezes acontece isto, você vem mantendo um ritmo, a viagem está rendendo, então você pensa duas vezes antes de parar...
Nós vinhamos ultrapassando os caminhões com muita facilidade, uma vez que os mesmos se arrastavam lentamente naquelas ingrimes subidas.


A Serra forte na ruta 04, subimos até 4500 m antes de descer para Cochabamba
O "ponto alto do trecho" está em uma curva próxima a Estancia Lako Lakoni, "La Cumbre" (como vocês devem já ter observado em toda a viagem, La Cumbre significa o ponto mais alto em um Paso). Ali a estrada cruza a 4496 m de altitude, a partir deste ponto começa a descida para o outro lado dos Andes.
Apesar da aridez quase desértica de muitas montanhas, a paisagem por alí com sol, é linda.
As curvas se intensificaram na descida até Lamapaya que já está a uns 3300 m de altitude, um pouco depois dali, já é possível avistar Cochabamba na descida para o vale de Parotani.  São as últimas e fechadas curvas até o vale, que já está na altitude de Cochabamba, 2550 m.


No outro lado de La Cumbre,  já descendo para Cochabamba
Na realidade, Cochabamba é a cidade central entre outras 7 pequenas cidades periféricas que, a não ser pelas placas, parecem uma cidade só.  A primeira por onde a ruta atravessa é Quillacollo, onde a ruta vira a Av. Capitán Victor Ustariz e depois Blanco Galindo já em Cochabamba.  São avenidas retas de 4 pistas de cada lado de um boulevard, possuem muitos cruzamentos.  Paramos logo no início, no primeiro posto de combustível maior que vimos, o calor estava forte, o sol muito ardido.  Abastecemos e, como eram por volta de 13:00 h, pensamos em almoçar, havia um restaurante no posto, mas estava fechado.

Seguimos sob o sol e, após passarmos sob um viaduto estaiado, entramos no centro de Cochabamba, na Av. Heroínas. Estávamos meio perdidos e com fome, fizemos um retorno e voltamos na mesma avenida, mas pelo outro lado, então paramos na frente de um mercadinho, compramos água e vimos uma pequena lanchonete, na realidade uma pastelaria. Foi alí que comemos uns salgados e descansamos um pouco. Fomos atendidos por uma senhora e uma menina que deveria ter uns 15 anos no máximo, percebi que ela tentava disfarçar a admiração e a curiosidade sobre nossos equipamentos e nossa aparência de forasteiros.
Novamente me surpreendi, imaginava Cochabamba como uma cidadezinha parada no tempo e no meio do nada, porém não é isto. É simples, porém bem arrumada e tem um astral agradável, fica situada em um vale onde o verde não é exuberante, mas já não é tão árido como as montanhas de alguns km atrás.

Era cedo, por volta das 14:00 h, no planejamento de viagem deveríamos procurar um hotel e pernoitar ali, para seguirmos à Santa Cruz no dia seguinte, porém o André propôs seguirmos.
Comentei que a maior descida da altitude nós já tínhamos feito, agora era só descer dos 2500 m para praticamente o nível do mar no Chaco boliviano.  Eu sabia que a descida era abrupta e esperava por uma serra braba, contudo, logo depois, estaríamos em um clima tropical.  Já tínhamos rodado quase 400 km, para Santa Cruz eram mais 500 km. Então vamos lá, respondi.

A continuação da ruta 04 começa no final da Av. Heroínas, não sabíamos, por isto rodamos um pouco pedindo informações, até que nos indicaram voltar para a avenida e seguir até o fim.  No trecho final a av. possui palmeiras imperiais no canteiro central e passa por um bairro com belas e grandes casas.  Termina aos pés do morro onde está o Cristo de La Concórdia e o teleférico que leva até Ele.  Entramos à esquerda na Av. Ruben Dário e, contornando o morro, saímos na Av. 23 de Marzo que cruza a grande periferia formada pelas cidades de Pacata e Sacaba até vir a ser novamente a ruta 04.


Av. Heroínas em Cochabamba, morro do Cristo ao fundo
São 15 km praticamente retos, até que comecem as curvas e a subida. Olhando no GPS eu estranhava pois sabia que iriamos descer, só que ao contrário começou a subir novamente, chegamos a 3600 m de altitude e depois descemos para um vale a 3300 m. Ali, uns 40 km após Cochabamba, está a junção das rutas 04 e 07, formando um "Y" invertido, assim quem vem de Cochabamba continua na estrada e nem percebe que saiu da ruta 04 e entrou na ruta 07.  Atravessamos um longo povoado distribuído às margens da ruta, é Colomi, depois de uma grande reta, novamente uma serrinha e saímos à direita da Laguna Corani.  Apesar da altitude, devido à umidade da laguna, o cenário é bem verde.  Pouco após a laguna, começa a "despencada" e, uns 10 km adiante, as montanhas já apresentam florestas tropicais. Dali em diante a descidas são vertiginosas com curvas muito fechadas onde a estrada corta a selva.  Tem-se a sensação de estar descendo a serra do mar no litoral sudeste do Brasil.  O asfalto é bom, mas como sempre, aparecem os trechos de "zona geologicamente instável" onde o asfalto cede lugar à pedras e buracos.  São muitos trechos assim, alguns longos o que faz o rendimento do trecho cair.


Laguna de Parotani

Descendo mais de 2000 metros
Já a 1900 m de altitude, a ruta atravessa sobre uma ponte em curva e um rio correntoso, que forma lindas cachoeiras, e logo a seguir atravessamos um longo túnel. Mais descida e outro túnel, este sem iluminação, escavado na rocha com água escorrendo das paredes e do teto, tem um "chuveiro" na saída.


Descendo a serra, cortando as florestas, ruta 07
Logo após, saindo de uma curva, surge o controle anti-drogas de El Sillar. Ali todo mundo para, e nós ficamos na fila esperando a inspeção. Os militares de farda verde oliva, revistam tudo, e quando chegou a nossa vez, vieram dois nos revistar. O soldado, um rapaz novo, estava impaciente e desconfiado com minha bagagem, eu calmamente abri os bolsos dos alforges antes de ele pedir, acho que talvez por isto ele resolveu se concentrar no baúleto. Me fez abrí-lo, como lá eu transportava documentos e a tralha eletrônica acomodada em caixas plásticas, ele me fez abrir uma a uma, até o Scooby ele revistou!
Eu tinha nos alforges uma caixa de saches de chá de coca (industrializado), que o André me presenteou no Peru, acho que não teria problema, mas ele não viu.  Só que eu havia me esquecido que, ainda tinhas umas "folhas de coca" (para mascar) na bagagem. Ainda bem que eu me esqueci, assim fiquei tranquilo e ele também não as viu no fundo de um dos bolsos dos alforges!  Só fui me lembrar depois!  Eu podia estar preso lá até hoje...
O soldado que revistava o André, mexia num dos alforges dele enquanto olhava para a cabine de comando, o André entendeu que ele estava esperando o chefe sair ou se distrair, para poder extorquilo, por sorte o militar de patente mais elevada não arredou o pé lá da sala...



Posto de controle anti-drogas de El Silar
Então nos liberaram, e nós encostamos as motos ali no posto mesmo, tomamos água, conversamos e ficamos observando o movimento. Nisto um soldado encostou e começou a conversar, ele também era motociclista e disse que adorava enrolar o cabo naquelas curvas, não entendi direito que moto ele tinha, mas era uma street.

Como é bom voltar a ver todo este verde

As imponentes montanhas cobertas de vegetação tropical do outro lado dos Andes

Nos despedimos e continuamos a descida que acompanha o rio Cristal Mayu, que depois junta-se ao rio Espiritu Santo. Já em baixo a 300 m de altitude, bem na nossa frente, surgiu uma Kawazaki KLR-650 (do exército) com dois soldados. Novamente ambos sem capacete e de camiseta, andamos um bom trecho atrás deles até que eles saíram da estrada à direita. Chegamos a Villa Tunari, um paraíso ecológico na junção dos rios Espiritu Santo e Chaparre. Já era meio da tarde, a pequena cidade que se estende por ambos lados da ruta, lembra muito uma vila nas estradas da nossa mata atlântica (pela vegetação, calor e movimento).



Portal do pólo turístico
O lugar é agitado, muita gente andando de chinelos, shorts e camisetas (ou sem), carros e motos e um clima agradável. Havia também muita gente com trajes de banho, vimos uma imensa fila de carros na entrada do posto de gasolina, concluímos que era devido à quantidade de turistas, há muitas pousadas às margens da estrada. Paramos em uma sombra, ao lado de um grande bar, apesar de estarmos a quase 3000 km do Atlântico, me sentia no litoral.  Havia um ponto de moto táxis do outro lado da rua, fomos lá perguntar e, descobrimos que havia falta de combustível, aquele posto da cidade tinha, porém a fila era de horas.
Um senhor nos informou que havia mais um posto 10 km adiante, mas não tinha combustível, porém havia mais um à uns 30 km onde era provável haver. Tínhamos que decidir o que fazer, esperar para abastecer ali, não iria nos permitir chegar até Santa Cruz, também não tínhamos combustível para isto. Decidimos então seguir mais 30 km, se encontrássemos combustível, seguiríamos, do contrário voltaríamos para Villa Tunari para arrumar onde dormir. Opções para dormir haviam, porém devido à quantidade de turistas, não devia ser barato.


Rio Chaparre em Villa Tunai
Havíamos rodado 185 km desde Cochabamba, então tínhamos como rodar com segurança mais 60 km.
Atravessamos a primeira ponte, havia muita gente se banhando e brincando no leito do rio, depois a segunda ponte e, de fato 20 km adiante em Shinahota, havia o tal posto, porém sem combustível. Seguimos com o nosso plano e, exatamente como o aquele senhor nos indicou, 30 km após Tunari, em Chimoré, havia outro posto , este sim abastecendo.  O calor era forte, já estávamos cansados, eu estava na fila das motos, quando um carro encostou do meu lado um pouco à frente, eu entendi que ele iria furar a fila e não deixei por menos, falei ao motorista que era uma fila e eu já estava lá!  Ele me olhou e não disse nada, só depois de algum tempo entendi, eles param as motos próximas as bombas, os carros formam uma outra fila ao lado, porém eles respeitam a ordem de chegada, então, quando a fila avançou, fui até o motorista do carro e lhe pedi desculpas, ele novamente nada disse, apenas sorriu.

Na fila do outro lado da bomba, havia um carro tipo perua, enquanto o motorista abastecia, uma menina vendia sorvetes de uma grande caixa de isopor que estava no porta-malas. Com a tampa traseira do carro aberta, ela ia servindo o sorvete em copinhos, naquele calor eu fiquei babando. Por sorte após abastecer o tal carro ainda não tinha ido embora, pois havia mais fregueses, incluindo nós.
Era fim de uma linda tarde de sol, agora com as motos abastecidas e rodando ao nível do mar, tínhamos combustível para chegarmos até Santa Cruz, que segundo nossos cálculos distava ainda uns 250 km.
Atravessamos a pequena Chimoré e cruzamos a ponte do largo rio com mesmo nome.


Rio Chimoré
Cortando as florestas na planície baixa (250 m acima do nível do mar), a ruta 07 tem algumas curvas e muitas retas, passa por inúmeras pequenas pontes que passam sobre riachos e pequenos rios.
Rodamos mais uns 30 km e, no meio do nada em uma reta, havia mais um posto de controle do exército. Fomos parados por um senhor carrancudo, as mesmas perguntas de sempre, de onde vem, para onde vão, documentos. Eu fiquei desanimado, pois o rendimento da viagem caiu muito e a tarde também, o sol já não brilhava, havia luz do dia ainda, mas já com sombras.

 Depois das verificações nos liberaram, logo a seguir após uma curva está Ivirganzama, onde a ruta faz uma bifurcação, continuamos à esquerda, rodamos mais uns 50 km e lá por Puerto Grether a noite caiu.
Não havia mais o que fazer, a não ser continuar, faltava um pouco mais de 150 km.
No primeiro posto de gasolina que avistamos, paramos para abastecer, havia jovens sentados em uma loja de conveniência e que ficaram nos olhando meio desconfiados. O André comprou duas coca-colas, que tomamos enquanto relaxávamos um pouco. Havia pessoas jantando no restaurante simples, perguntei se faltava muito para Santa Cruz, um senhor respondeu com um sorriso, 1 hora e meia. Agradeci e nos despedimos.  Agora já não há mais muito a relatar, apenas que a estrada tinha bastante movimento e fomos passando por inúmeras cidades, Yapacani, Santa Fé, San Carlos, Buena Vista, Portachuelo. Depois de San Carlos, surgiu longe no horizonte à sudeste, uma luz de ânimo, eram as luzes de uma grande cidade refletidas no céu noturno, eu sabia só poderia ser Santa Cruz. No caminho muitas fazendas e grandes silos refletiam a luz da lua, havia também inúmeras cooperativas agrícolas e um cheiro de grãos no ar.
Depois da ponte metálica sobre o rio Piraí, chegamos à Guabirá, que é encostada em Montero. Uma surpresa, duas belas cidades, muito movimentadas, pareciam cidades do interior paulista, ruas iluminadas, prédios e praças bem cuidados, nada a ver com a imagem que se vende da Bolívia.

Saímos da ruta à direita em uma rotatória e caímos direto em uma avenida de duas pistas que termina em outra rotatória, seguimos em frente pela Calle Independência e cruzamos o centro. Passamos pela praça central e no final da Calle Warnes, havia uma obra que interrompia a pista, vimos uma moto subir na larga calçada arborizada e passar entre o monte de terra, que fechava a rua, e um muro, fomos atrás e já saímos do outro lado da interrupção, bem na rotatória onde há a estátua de Nossa Senhora Auxiliadora, bem ali, recomeça a ruta.
Novamente, uma via rápida de duas pistas divididas por um muro central de concreto, e com  iluminação, ótimo, agora vai render pensei, apesar da noite, temos agora uma boa pista iluminada.

Concluí que é uma região de importância econômica, pois há muito movimento entre as duas cidades, contudo naquela noite de terça-feira, estava tranquilo.  A medida que fomos nos aproximando de Santa Cruz fui ficando cada vez mais admirado, apesar de ser noite, era possível ver muitas propriedades à beira da estrada. Cruzamos a pequena Warnes, que se estende por ambos os lados da ruta e possui um canteiro central em forma de boulevard.  Mais adiante, passamos por uma parque aquático à direita, e à esquerda pelo acesso ao aeroporto de Viru Viru.

Fiquei admirado com as grandes concessionárias espalhadas em ambos os lados da via, tudo o que você pode imaginar em termos de caminhões, tratores e carros. Só da Caterpillar, ví duas revendas próximas, o que não é comum, nem no Brasil.
Quando passamos pelo hipermercado Hipermaxi, já estávamos dentro de Santa Cruz, novamente me surpreendi, uma grande e bela cidade à noite. Seguimos pela Av. Cristo Redentor e continuamos na Monseñor Rivero até a bela Plaza del Estudiante, onde contornamos a grande biblioteca municipal e, bem na esquina com a av. Cañoto, está o Hotel Suiza.
Eram 21:30 h, uma noite muito quente, nós estávamos quebrados, o André foi ver o hotel e era o que precisávamos, bom preço e com estacionamento. Um pequeno e muito bem arrumado hotel, colocamos as motos na garagem no sub-solo e começamos a árdua tarefa de subir com todas as bagagens.
Como tinha elevador, escolhi um quarto no alto, queria ter uma vista da cidade. O quarto muito bom, arrumado espaçoso e limpo.

Depois de um dia destes, com quase 900 km rodados e uma mudança de clima absurda, só um longo banho quente me fez voltar à vida. Mas o dia não havia terminado, como não havíamos almoçado, tínhamos que pelo menos jantar. Por isto, já limpos e novamente com cara de gente, saímos do hotel e, própria Av. Cañoto, quase ao lado, está o grande restaurante Pollo Chuy. Grande e movimentado, muitas famílias com crianças, carrões importados, tudo muito bonito novo e bem construído.

Jantamos para valer, na realidade agora sem a preocupação da altitude, enfiamos o pé na jaca!
Como o nome diz, é especializado em frango, daí que pedimos os nossos com muitos complementos, foi tanta coisa que, depois não conseguíamos mais comer.

Eu me sentia em uma grande e rica cidade do Brasil. Então Santa Cruz é uma cidade boliviana perdida no mato lá no fim do mundo?  Longe disto mesmo!  É rica, arborizada e pelas avenidas que tem, foi muito bem planejada.

Fui dormir admirado com o que encontrei, muito melhor assim, afinal a nossa querida América do Sul aos poucos, bem lentamente, vai deixando de ser o tal "terceiro mundo".

Rodamos neste dia aprox. 880 km - La Paz - Santa Cruz de La Sierra - Bolívia.
Hotel Suiza - Esquina Av. Canõto com Liberdad (Plaza de los Estudiantes).
Restaurante - Pollo Chuy - Av Canõto à 70 metros na mesma calçada do hotel.

5 comentários:

  1. Adorei a Laguna de Parotani, dá uma sensação de Paz!!! Que foto linda... adoraria estar lá sentada, só sentindo a brisa ... e a respiração de Deus.

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  2. Ronaldo, que memoria....como vc consegue lembrar tantos detalhes, já havia esquecido muitas coisas que vc postou. Sou testemunha de que vc não anotou absolutamnete nada, como vc consegue?

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  3. André,

    Não sei, vou pensando e aos poucos as coisas vão se encaixando. Na realidade começo lembrando de algo que me marcou, é fio do novelo.
    Claro que uso o google earth para buscar os nomes das cidades e ter uma sequência correta.

    abraço

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  4. Bela viagem Ronaldo,

    Mas como esta o trecho entre Santa Cruz e Corumbá. Ja esta asfaltado?

    Abs

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  5. Caro Rodrui,
    Pelo que entendemos, este trecho já é asfaltado a muito tempo, pois se La Paz é a capital política, Santa Cruz é a capital economica.
    O isolamento dava-se a partir de Santa Cruz na direção do Brasil, alí sim os 700 km através do Chaco só eram possiveis com o trem da morte.
    Mas como você verá n próximo dia, este trecho agora também é asfalto (recente mesmo).
    Abraço

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