segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dia 20/12/2010 - Comprei um terreno nos Andes (O Paso de Sico).

Não choveu, como parecia que iria acontecer durante a noite, amanheceu um dia lindo, porém por aqui tudo muda rapidamente.


O dia amanheceu lindo mas o céu aqui é instável
Quando fomos lá fora, pegar as motos na área coberta para deixá-las "bem na porta" do hotel,  pois não é fácil carregar a bagagem a 3800 m, o céu tinha fechado de novo e fazia um frio de lascar.
Na porta já tinha uma menina vendendo toucas de lã, eu acabei comprando uma, mas no intuito de ajudá-la, seu nome, Corina 12 anos. Enquanto isto, passavam por ali uns gringos com a filharada, a quem cumprimentei sem receber resposta. Depois, saiu uma mulher com um menininha de uns 5 anos, linda de olhos azuis e cabelos negros e que ao passar por mim disse "buen dia" e depois parou em frente à Corina, lhe estendeu a mão e disse "buen dia!"  Depois saiu correndo atrás da mãe que já ia bem à frente.
Aquela "européiazinha" linda, muito bem vestida e contrastando com o rosto queimado de frio e as roupas simples e desgastadas da Corina, porém já com consciência de respeito ao próximo, me fez pensar que o mundo não está perdido...

Tomando café à nossa frente, em outra mesa, estava a mulher com aquela menininha linda, se todas as mães dessem educação assim aos seus filhos...

Colocamos as bagagens nas motos e começamos a árdua tarefa de enfiar todas aquelas garrafas de gasolina no meio, coisa que o André conseguiu resolver rapidinho. Eu novamente me enrolei, ficando a maior parte das garrafas para o André carregar. Para compensar, coloquei o galão de 5 litros na mochila e pendurei no peito, assim equilibrava a carga no tanque. Ficou incômodo, mas eu disse pro André que assim que rodássemos uns 40 km, despejaríamos estes 5 litros nas duas motos, só não disse pra ele que a tampa estava realmente vazando e o cheiro de gasolina vinha bem no meu nariz.



Gasolina reserva, nossa salvação !

Partimos pela rua errada, acabamos tendo de voltar, porém achamos outra "vendinha" onde paramos pra comprar água.  Eu desci da moto tentando arrumar a minha desajeitada carga, lá dentro da venda haviam vários quadros, com fotos da época da construção do viaduto, fiquei admirando.



Saindo de San Antônio, onde há umidade...
Quando saímos da cidade, o sol iluminava a estrada, passamos pela entrada do viaduto e agora seguíamos por um caminho novo. Depois de alguns quilômetros a ruta afastou-se do riozinho que beirava e começamos a subir em caracol, estávamos subindo para o "Alto Chorrilho".
Tinha umas curvas bem fechadas e estrada apontava para cima, o céu fechou de novo e por aqui o frio sempre dá as caras quando o sol se esconde.





Subindo para o Alto Chorrillos

O cenário árido, mas muito bonito, mesmo sem o sol. Atingimos o topo à 4560 m de altitude, paramos para fotos, dividimos a gasolina do galão nas motos e colocamos as luvas. Tudo bem devagar, pois descobrimos que após 3500 m, qualquer tantinho a mais, faz muita diferença, estávamos a 760 m acima de SALC! Coloquei o galão vazio de volta na mochila e a pendurei nas costas, o que me atrapalhava um pouco os movimentos, mas não íamos deixar o galão vazio ali.








Este foi até aqui, o ponto mais alto da viagem.



Descendo do Alto Chorrilho




O instável céu dos Andes, aqui frio, lá adiante sol e quente

Eu estava ansioso para chegarmos à Olacapato, um vilarejo perdido em uma planície, onde há uma estação abandonada do trem, quando este ia para o Chile. Lá existe um tanque antigo que abastecia de água os trens à vapor da época.


Descendo o Alto Tocomar



Onde tem uma águinha, tem alguém

Descendo as "cuestas" do "Alto Tocomar" chegamos à planície eu fiquei procurando o vilarejo, num certo trecho eu estava ajeitando a mochila nas costas enquanto olhava ao longe. Quando olhei para a estrada novamente, vi um poço de "fesh-fesh" que tomava toda a largura da estrada uns 30 m à frente, não tive dúvida, travei nos freios e quando cheguei nele estava com a velocidade baixa, mas com a moto arrastando de lado. A roda dianteira "saiu" e eu caí suavemente no talco.

Meu terreno em Olacapato
Obviamente não conseguí levantar a moto e comecei a sinalizar para o André que ia bem lá na frente, até que ele deu falta de mim e voltou pra me socorrer. Não quebrou nada, eu nem sequer caí, praticamente saltei da moto quando ela deitou, mas não sei porque fiquei com o moral baixo.
Eu não ligo pra tombos "off-road" mas acho que foi pelo fato de estar distraído. Este tombo não precisava ter acontecido. O "Fesh-fesh" ou "Guadal" é um pó muito fino, tem a consistência do talco, só que é poeira.  Ele se acumula em depressões formando um piso fofo e instável, por isto é o "terror" dos desertos para quem anda de moto.

Ok, comprei um terreno em Olacapato!
O lugar não é muito bom, mas o preço foi justo...

Neste interím o sol apareceu e entramos em Olacapato, um vilarejo fantasma, mora gente lá, mas estranhamente quando você vê alguém ao longe, logo some por entre as casinhas de adobe.   Fomos então tirar as fotos do tanque, que é uma bela ruína, um ícone da história recente.
Abastecemos novamente as motos, eliminando mais umas garrafas, deixamos as garrafas e o galão vazios em uma lixeira da estação, sinceramente acho que ninguém jamais irá recolhe-las de lá, mas pelo menos não estão jogadas na paisagem...


O Tanque de Olacapato

A antiga linha do trem vindo de Salta

Sonhei um dia tirar esta foto, aí está
Saindo de Olacapato, ví uma bicicleta deitada na beira da estrada, olhei em volta e juro, não ví viva alma,  fantasma anda de bike?

Na saída de Olacapato, existe a bifurcação da ruta, à esquerda vai para o Paso Socompa (na direção de Antofagasta 650 km) e à direita vai para o Paso de Sico (direção de San Pedro de Atacama 300 km) o nosso destino.  Bem ali, há a capela abandonada de Cauchari, um vilarejo abandonado, pensei em ir lá agradecer aos nosso protetores, mas não fui, a "aura" do lugar me pareceu estranha. Porque aquele lugar foi abandonado?

Capela da abandonada Cauchari



Bifurcação, Paso Socompa, Paso de Sico. Olacapato / Cauchari

Paramos para observar o salar que se desenrola atrás de Olacapato,  salar de Cauchari (que é cor de terra, poucos salares são brancos).

Diversas vezes, paramos para admirar as paisagens que mudavam o tempo todo. Após uma serra passamos à direita do enorme "Salar del Rincón", não há foto que descreva a profundidade do horizonte e as dimensões deste lugar.


Depois de Olacapato, a caminho del Salar del Rincón






Impossível ter idéia das dimensões deste lugar

Começamos a encontrar muitos poços de fesh-fesh, a pilotagem requeria muita atenção. Depois de um tempo o André concluiu que o fesh-fesh estava associado aos salares, pois sempre que passávamos por algum, os poços surgiam na estrada. É fato, o trecho com mais fesh-fesh foi o do enorme Salar del Rincón.
Até o André, que pilota pra caramba, estava tenso com tantos que encontramos. Se você andar muito devagar a viagem não vai render, você pode até via a cair num poço, o que não ira te machucar, porém terá de levantar a moto, o que não é fácil dada a altitude. Mas se você andar mais rápido e cair em um poço destes, aí tá ferrado!
Como a moto literalmente "afunda", você pode ser arremessado dela...

Além do fesh-fesh, existem as "calamitas" ou  "calaminas" que são costelas de vaca muito próximas, parecem um serrote, são verdadeiras destruidoras de veículos.
Eu tinha certeza que ao fim deste dia, teria deixado pedaços da moto pelo caminho tamanha a vibração.

Resumindo, a pilotagem "tensa" para desviar do fesh-fesh e evitar ao máximo as calaminas, somados às mudanças de temperatura constantes e a altitude, minaram nossas forças.  Quando, muito ao longe, avistamos o posto de controle do exército Argentino, o André acelerou sem querer mais saber de nada!



O Posto de controle Argentino, ao fundo as Pucaras

Eu chegando ao posto de controle

O posto de controle fica em um lugar estranho mas lindo!   É o final de uma enorme reta, em torno do posto várias "púcaras" desenham o horizonte, formam o final da planície do Salar del Rincon. Bem em frente ao posto, está a maior das púcaras, a natureza por aqui não economiza mesmo!

Quando cheguei ao posto e parei, senti o sol queimando, paramos as motos na lateral mas não há sombra.
Entramos no posto e colocamos as coisas no chão, próximo à entrada, pelo menos tem sombra. Fomos a um guichê onde uma loirinha com farda verde nos atendeu. O posto é grande, com várias salas e corredores, havia mais uma menina e um rapaz, ambos à paisana, ela escrevia muito em um grande livro.
Havia um comboio de caminhões parado ali e pelo jeito eram dados deles que ela anotava.


Outro sonho realizado, foto da Púcara em frente ao posto
Ninguém tem pressa de nada por aqui, pressa pra quê no meio daquele mundão!

Conseguimos o carimbo de saída nos passaportes e, ao sairmos, perguntei à um dos motoristas dos caminhões se havia gasolina em Socaire, a primeira cidade Chilena após cruzarmos os Andes, o que ele confirmou. Me deu vontade de perguntar se ele queria trocar uns pesos Argentinos por Chilenos, mas não o fiz, ele estava fugindo do sol com uma marmita na mão, lá dentro pelo jeito havia um refeitório.

A "soldado" loura, levantou a cancela e nos deixou passar, agradecemos. A ruta já saí dali em direção às púcaras e um monte de rochas fazendo uma curva à direita, é estranho, pois "oficialmente" havíamos deixado a Argentina, mas não tínhamos entrado no Chile. Eu achava que o posto Chileno estaria próximo mas não estava. Após cruzarmos uns 15 km através do "maciço da púcaras" chegamos ao limite fronteiriço, onde paramos para tirar a clássica foto. Neste momento o céu estava fechado e começou a chover, mas a "chuva" não molhava, apenas minúsculos respingos apareceram na lente da câmera fotográfica. Eu disse pro André, só nós mesmos! Chuva onde não chove e bem na placa!  Mas não durou cinco minutos.








Parece brincadeira, mas passando a placa de "Bienvenidos a Chile" a estrada fez uma curva à esquerda e começou a subir e o cenário a mudar.



Incrível! Em uns 5 km apenas, o cenário mudou drasticamente e ficou mais lindo. Montes acinzentados, amarelos e esverdeados rodeavam a estrada, um cenário lunar. O André disse "o Chile ficou com o lado mais bonito". E ficou mesmo!



O Chile ficou com o lado mais bonito dos Andes
A altitude chegou à uns 4300 m, e saindo e uma curva começando a descer, eu parei e avisei o André que vinham carros lá atrás de nós. Ficamos parados esperando eles passarem e passaram mesmo, voando!
De onde estávamos, a estrada descia e sumia numa baixada à direita, para depois reaparecer muito longe cruzando bem na frente para o lado esquerdo, em uma longa reta. Eles passaram bem espaçados uns dos outros, mas os três deviam estar no minimo à 120 km/h. Ficamos ali vendo eles cruzarem lá longe, deixando pra trás um enorme rastro de poeira, eu olhei pro André e exclamei: "PQP já começou o Dakar! Que porr.. de viagem é essa que eles estão fazendo?"

Descemos então e quando chegamos à reta pudemos ver o posto de controle do exército Chileno, chama-se Avanzada El Laco, a tal reta é a baixada do Salar El Laco. De novo o céu fechou, paramos no posto que fica em uma subida bem em frente a borda do salar. Os três voadores estavam lá, uma F-250, e dois Mitsubishis, todos com adesivos nas portas "Expedição Pacífico". Entendi! Eles só querem ver o mar, é por isto que estão com tanta pressa...
Eu disse pro André, pelo jeito vai demorar por aqui, ficamos esperando a turma ser liberada, todos meio metidos. Uma menina que estava com eles estava passando muito mal, vomitando e com cara de que o mundo ia acabar, "punou". Eu disse pro André, também com os caras andando deste jeito nestas mudanças bruscas de altitude ia dar no que?

Depois que a poeira baixou vamos descer para El Laco

Já em baixo, a borda do El Laco

Chegando ao posto de controle Chileno
Posto de controle e um dos apressadinhos, vento frio...

Perguntamos para um deles de onde eles vinham, eram todos gaúchos como eu, parece que nem todos os gaúchos são legais né?

Não marcamos o tempo, mas demorou, enquanto esperávamos o céu estava escuro e soprava um vento muito forte e frio. Quando chegou a nossa vez, fomos muito bem atendidos. Esqueci os documentos da moto no baú e tive ir até ela, andando muito devagar, quase me arrastando. Depois errei na hora de preencher o formulário e tive que fazer tudo de novo, estava cansado, estávamos a 4300 m de altitude. Fiquei imaginando como seria aquele lugar no inverno!

El Laco.  Meia hora depois o céu abriu de novo! 
Quando saímos do posto Chileno, o sol voltou a aparecer e continuando a subida, cruzamos com uma motoniveladora Caterpillar que aplainava a estrada, cumprimentei o tratorista. De fato, ele tinha dado uma melhorada na ruta que, depois de subir, virar aqui e ali, desce um pouco rumo a Laguna Tuyajto que é linda, branquinha de sal e com flamingos. Tiramos fotos à distância, apesar da vontade de descer até lá o cansaço não nos permitiu, estávamos ainda a 4000 m.

Eu na curva que contorna a Laguna Tuyajto
O André e a Laguna
A linda Laguna Tuyajto !

Entramos no Chile "meio que oficialmente", pois ali é foi feito o controle de aduana e dos veículos, a imigração é feita só em San Pedro.

O André se "divertindo" com as "calaminas"
Mãe! Eu tô feliz!
Olha o céu agora !
Logo à frente, surge o Salar de Águas Calientes, uma overdose de belezas, mas infelizmente já não conseguíamos assimilar.

Salar Águas Calientes
O lado Chileno é lindo
E continua lindo
Não sabíamos, com tantas mudanças de direção, de altitude e de céu (que muda rapidamente do cinzento agourento ao mais profundo azul ensolarado) que mais uns 25 km à frente, a ruta viraria uma camada dura que parecia asfalto, mas não era. Estávamos descendo ao lado das Lagunas Miscanti e Meniques, com seus respectivos vulcões ao fundo.

Nós já sabíamos que não dava pra ver a lagunas a partir da ruta, elas estão escondidas atrás de uma elevação. Sabíamos também, segundo o Marcelo, que tem um "índio" lá que cobra entrada e não aceita dólares.
Ele também nos disse que dava pra ver as lagunas do alto da elevação sem precisar pagar a entrada.
Como nós não tínhamos pesos chilenos, pensamos em subir a elevação, mas como tudo aqui é gigantesco, nos pareceu a uma enorme distância a estrada que subia a elevação em diagonal. O cenário amarelado, dava-nos a impressão de que a tarde já ia longe.

A Ruta passando ao lados das lagunas
Atrás desta elevação verde, escondem-se as lagunas, vê-se a estrada ao longe

Vulcão Miscanti, aos seus pés esconde-se a laguna Miscanti

A direita do Miscanti, vê-se o Serro Meniques, sua Laguna está aos seus pés
Decidimos não tentar, nos conformamos, se desse voltaríamos a partir de San Pedro, do contrário teríamos que nos resignar de não tê-las visitado. Tínhamos dúvidas de quanto faltava para Socaire, portanto era melhor não queimarmos gasolina.

Da ruta 23, esqueci de dizer que a ruta 51 (Argentina) acaba na divisa e aí contínua com ruta 23 Chilena. Dali onde ela passa ao lado das lagunas, até Socaire são uns 40 km. Passa por um cenário rochoso, formando uma pequena quebrada de onde, pela lateral da estrada, corre um canal de água em meio à aquela secura toda. Adorei o lugar e pensei, se voltarmos para visitar as lagunas, vou dar uma paradinha aqui.

Passando a quebrada, logo se pode avistar Socaire à distância e à sua esquerda o imponente Salar do Atacama. Não dá pra descrever a dimensão daquilo, deve ter mais de 100 km de largura, some no horizonte.

Após Socaire, o cenário muda drasticamente, à direita o fim dos Andes

A esquerda a imensidão do Atacama
Ruta 23, vindo de Socaire em direção à San Pedro del Atacama

Pouco antes de Socaire, como previsto, começa o asfalto, a cidadezinha é pequena, mas não vimos posto de gasolina, nem muita gente a quem perguntar. Depois de algumas tentativas, descobrimos que não há posto, todos no diziam pra procurar a casa do "Jefe".Quando a encontramos, estava bem na estrada, uma senhora nos disse que tinha gasolina, só que não aceitava dólares! Lascou...
Nos informou que uns 30 km à frente estava Toconao. Apesar de estarmos com fome, vimos que sem dinheiro chileno nada feito.
Lembra-se do câmbio em Salta?  Pois bem, aqui está o problema...

Continuamos na ruta 23, eu sentia um misto de êxtase e preocupação, a ruta desce em longas retas cortando o deserto, à direita os últimos maciços e vulcões dos Andes, à esquerda a planície imensa do Salar do Atacama, onde só uma elevação próxima a ruta quebrava aquela "planura" toda. Com o pôr do sol se aproximando o cenário era lindo demais!

Fomos devagar, ao mesmo tempo que economizávamos combustível, desfrutávamos da paisagem.


Apreciando a vista exuberante do deserto
Vamos devagar economizando combustível, assim chegamos lá

Muito ao longe, pudemos ver Toconao, parecia um oásis em meio ao deserto, de fato o "pueblo" está na Quebrada de Jere". Chegando lá, nada de posto! Paramos na estrada, pois ela cruza a cidade, era fim de tarde, sabíamos que San Pedro estava mais 40 km adiante somente.

O André fez as contas, tínhamos mais 3 litros nas garrafas, como as motos ainda não tinham virado reserva, com 1.5 litro em cada moto, mais a reserva, dava pra chegar a San Pedro. A altitude havia caído para 2800 m na borda do deserto, portanto as motos deveriam ter voltado a consumir menos, na pior das hipóteses se estivessem fazendo 12 km/l, dava pra chegar.

O Sol se punha à nossa esquerda enquanto a lua aparecia à nossa direita, até que ela ficou emoldurada pelo vulcão Licancabur, chegávamos a San Pedro.


Chegando a San Pedro, a Lua emoldura o Vulcão Licancabur

A entrada da cidade, vindo pela ruta 23, é meio decepcionante. O posto da imigração fica logo na entrada e estava cheio de gente, havia um ônibus e vários carros na fila. Não tinha como deixarmos tudo ali nas motos e irmos os dois pra lá. Fui me informar e um senhor, apesar da boa vontade, estava meio confuso tentando ajeitar aquele monte de gente. Me pareceu desorganizado, já tinha anoitecido, aí apareceu um dos guardas da aduana, quando ele viu as placas das motos começou a falar conosco em português,"é eu morei em São Paulo dez anos!". Ótimo, ele nos deu a dica do que fazer, nós até perguntamos se podíamos entrar na cidade, acharmos um hotel e voltarmos ali de manhã, mas ele nos disse que não, isso ia nos dar o maior problema.
Quando lhe disse que tínhamos vindo pelo Paso de Sico, ele disse, tá mais fácil, vocês já fizeram a aduana em El Laco, precisam só fazer a imigração. Fizemos em sequência, fui primeiro enquanto o André cuidava nossas coisas, fui muito bem atendido por uma menina, já o André, deu azar de pegar o guichê ao lado e foi atendido por um sujeito grosso e de má vontade. Quando terminamos, o guarda disse, não preciso ver nada nas motos, vocês já passaram por El Laco. Agradecemos muito, já pensou se alguém resolve revirar toda nossa bagagem à aquela altura, pois já eram 21:00 h.

No escuro, fomos entrando na cidade, que nos pareceu feia, tentamos entrar na "Calle Caracolles" porém a mesma é só para pedestres, aí voltamos e pegamos uma rua à direita. Na realidade não achávamos nada, até que uma turma de meninas adolescentes apareceu na rua, eu parei e tentei em Castelhano lhes perguntar sobre hotel, aí elas falaram entre si em português. Ah vocês são brasileiras! Expliquei que acabávamos de chegar e estávamos perdidos, elas no informaram que estávamos indo pro lado errado mesmo. Tínhamos que voltar e passar pela Caracolles, só que do outro lado.

Voltamos e conseguimos pegar a rua paralela à Caracolles, até que vi uma perpendicular onde passavam carros, então pensei, vamos entrar aqui, assim chegamos mais perto.
Só pra entender, a Calle Caracolles é a rua principal onde ficam as agências, câmbio, restaurantes e "hosterias".
Esta rua, que pegamos, cruzava a Caracolles e continuamos nela, só que virou um beco escuro, com muros de adobe em ambos os lados, até que ela faz uma curva e encontra uma rua iluminada. Paramos na esquina, o André virou à esquerda, eu ví uma senhora com uma sacola na mão, esperando para cruzar a rua, fiz sinal para ela passar e ela sorriu. Depois que passou na minha frente, já na outra calçada, quando eu fui acelerar ela voltou e me perguntou, "estás buscando hosteria?"
Respondi que sim e ela me disse, "sigue aquí adelante e gire la próxima a derecha, en medio de la calle tiene la hostería..." porém o nome não entendi.
Agradeci e chamei o André, passamos por ela e entramos na tal rua, totalmente escura, larga e margeada por um enorme muro de adobe. De fato, uns 50 metros adiante, tinha uma luz à esquerda. Paramos e tocamos a campainha, um senhor veio e abriu o portão de correr, entramos com as motos.

Ok, nos instalamos! O quarto era simples e pequeno, mas gostei do lugar, tinha estacionamento seguro para as motos, então paramos as mesmas na beira da calçada interna. Mais uma vez os anjos da guarda estavam a postos, descobrimos no dia seguinte que foi uma ótima escolha!

Tomamos banho e fomos para a Calle Caracolles, que fica a menos de dez minutos à pé. As ruas são de terra, incluindo a Caracolles, que é como um "calçadão", parece a versão desértica de Paraty.
Passamos por vários restaurantes e muita gente na rua, até que resolvemos entrar em um, rústico mas cheio de gente bem vestida. O jantar foi muito bom, porém bem caro, mas optamos pelo lugar, por podermos pagar com cartão de crédito, não tínhamos pesos chilenos e afinal, depois de um dia destes merecíamos!

Rodamos neste dia 380 km em aprox. 12 horas - San Antônio de Los cobres Arg -San Pedro del Atacama Chile.

Hostal Elim.
Calle Palpana, 6 - San Pedro del Atacama - Chile.

Restaurante La Staka
Calle Caracolles 259-B - San Pedro del Atacama.

2 comentários:

  1. Ronaldo adorei! estava tendo um dia super chato no trabalho e resolvi ler! Parece que a viagem foi muito linda! E o GPS era o certo?? Vou repassar pro meu pai pra ele ver, especialmente as fotos do Chile! Espero mais!

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  2. Vanessa,

    Obrigado por lêr.

    O GPS estava certinho e foi fundamental.

    Tem muita coisa ainda sobre o Chile, mostre para o Herbert, ele vai gostar.

    Um abraço a todos vocês !

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