domingo, 26 de dezembro de 2010

Dia 26/12/2010 - Dividimos o Perú em três (o vale Moquégua).

Na nossa planilha de viagem o trecho Tacna - Cuzco  no Peru, estava programado para ser feito em dois dias, porém várias vezes eu disse para o André que estava preocupado, pois havia um trecho não muito bem resolvido, Moquégua - Puno. Fiquei aliviado quando ele me disse, vamos dividir o trecho duvidoso em dois dias.  E foi a melhor coisa que fizemos mesmo.
Saímos mais tranquilos, quando havíamos chegado em Arica, tínhamos visto na rotatória a indicação de Tacna, hoje apesar de o GPS nos mandar para a avenida a beira-mar, insisti em ir para a rotatória. Paramos no primeiro posto de gasolina e, enquanto abastecíamos a frentista nos perguntou se estávamos no "Dakar!" Quem dera... Mas não com estes pneus e bagagem?
Pegamos a avenida que saía da rotatória seguindo a indicação da placa, mais tarde descobrimos que o GPS estava certo, pois demos uma volta e saímos pela porta dos fundos da cidade. A indicação do GPS mandava seguir beirando o mar, onde fomos parar novamente, porém muitos km adiante.


Saindo de Arica, pela porta dos fundos

Voltando para estrada a beira-mar.

A caminho das aduanas chilena e peruana

Chegando
Logo adiante já está a imigração chilena, paramos as motos e fomos para a fila, um placar eletrônico indicava o guichê que chamava. Descobrimos ainda na fila, que tinha um formulário a ser preenchido em duas vias que devia ter sido "comprado" em uma papelaria!   Fiquei puto, chegamos no feriado de Natal, era Domingo, não iriamos poder sair por causa de um papel do qual ninguém tinha falado antes!    Por sorte, um
senhor que via minha indignação nos chamou e de um bloco, arrancou as 4 folhas de que precisávamos.     Este senhor salvou a reputação do Chile, na minha opinião!   Mas ele salvou mesmo foi o nosso dia.



Adeus Chile, até logo...
No mais, foi tudo simples e logo já estávamos seguindo em direção a imigração Peruana.
O posto peruano é grande e moderno, quando estava parando a moto pensei ter escutado a palavra "fudido" em português. Os dois senhores da "linha de frente" nos fizeram estacionar as motos e um deles já perguntou:  Tiene carnes, frutas etc? Lembrei das duas maçãs que estavam comigo, sobra daquelas que comprei em San Pedro, mostrei a ele que me disse: "Da me cá".  Tentei perguntando, posso comer uma?     Ele disse não, pegou as duas e guardou no seu banco... Eu não, mais ele vai comer!

Enquanto íamos para dentro do posto o André me disse, você viu eles falando em português com sotaque espanhol "brasileiros, estão fudidos". Eu disse pro André que tinha escutado só uma palavra.  Pois é, eles vão nos sacanear!
E começaram mesmo, depois que carimbamos os passaportes, voltamos até eles que olharam o passaporte e nos mandaram ir para um guichê do lado de fora, era uma guarita ao sol.  Não tinha ninguém lá, e quando tentamos sair dali eles gritaram de longe para nós ficarmos lá.  O André ficou puto, eu apesar de também estar, tentei ficar o mais calmo possível.  Esperamos uns 15 minutos debaixo daquele sol de torrar até que
apareceu um senhor, entrou na guarita e fez os trâmites da saída das motos.
Como eu fui liberado primeiro, voltei para lá onde estavam os dois sujeitos, um deles pegou meu passaporte abriu e carimbou sem olhar (achei estranho pois já havia sido carimbado lá dentro) quando perguntei de forma bem educada porque outro carimbo, eles riram.  Percebi a palhaçada mas não me abalei, agradeci com um sorriso e perguntei se eles queriam que eu abrisse a bagagem.
Como em nenhum momento fomos mal educados ou reclamamos, sempre agradecendo "gracias senõr", percebi que eles ficaram sem jeito de continuar a sacanagem.  Um deles respondeu que não precisava e aí começou a puxar o maior papo, perguntar sobre o Brasil etc. Quando o André voltou do guichê eu disse, ele precisa carimbar seu passaporte, o guarda sem jeito disse que não precisava mais.   Como eles são a
autoridade, não adianta reclamar ou brigar, a "técnica" de "devolver" muita educação funciona.



Benvindo só na placa (até agora)


Claro que ficamos imaginando inúmeras formas de "sabotar" maçãs numa eventual volta por estes lados, a mais inocente era de urinar nelas e depois de secas, guardá-las na bagagem para serem "confiscadas" e claro depois comidas pelos fiscais.

 Nossa primeira impressão do Peru já não foi das melhores.

Saímos da aduana alguns metros à frente há um posto do exército, um soldado nos parou olhou as motos e os documentos e nos mandou seguir.  Dali até o centro de Tacna são 35 km pela 1S cruzando a planície do deserto ao nível do mar.  No caminho passamos por uma vila abandonada, porém em ambos os lados da estrada, espalhadas pelas areias do deserto, vimos várias casinhas quadradinhas de maderit ou lona. Não se vê ninguém, elas estão espaçadas entre si de forma a cobrir a maior área possível. Não entendemos, mas supomos ser uma simulação de ocupação do território, casinhas "fake".






Entramos em Tacna passando pela zona franca, que estava fechada, e pelo pequeno aeroporto, um calor terrível ao sol. Rodamos um pouco e encontramos a praça da catedral, precisávamos fazer câmbio.  Ví alguns policiais e fui perguntar, um deles muito educado, disse que não haviam casas de câmbio, só cambistas na rua e que não era 100% seguro fazer câmbio com eles, pois rola muito dinheiro falso. Mas ele indicou um que ficava dentro de uma loja e era "mais" confiável...
Paramos as motos do outro lado, eu fiquei ali cuidando delas enquanto o André foi procurar o tal cambista, não havia sombra para as motos, então eu me encostei na parede de um prédio tentando ficar à sombra.  Escutei um assovio de admiração, quando olhei duas adolescentes olhando para as motos comentaram "dos motos viajeras, uh huh!" aí elas me viram e disfarçaram seguindo pela calçada.
O André voltou e ficamos tentando entender os valores, fizemos muitas contas e acabamos trocando todos os pesos chilenos, mais uns dólares. Ok, temos Soles (moeda peruana) saímos dali e tentamos achar onde comer, como nada nos chamou a atenção, seguimos no rumo da estrada.  A ruta 1S ao sair da cidade contorna uns morros onde usando a "técnica" dos geóglifos, o exército decorou um deles com os símbolos dos batalhões de infantaria e engenharia. Tacna é uma cidade bem ajeitada com uma bela praça no centro e muito movimento.
Foi por muitos anos uma cidade chilena após a Guerra do Pacífico.


Catedral de Tacna

Geóglifos do Exército Peruano
Subimos a serra para o Pampa Los Cerrillos,  também há algumas daquelas "casinhas fake", no mais é um desertão, só cortado por uma verde e pequena quebrada chamada Sama, dali segue-se por 40 km quase em linha reta com "nada" em ambos os lados. A moto do André, que ia na frente, levantava areia da pista, eu o ultrapassei, de forma que pudesse ver a minha fazendo a mesma coisa.



Cortando o deserto no Pampa Los Cerrillos
No final deste trecho, descemos uma pequena serrinha, a quebrada Camiara, onde antes da ponte há um forte do exército Peruano como muros altos e pintados com camuflagem do deserto. Há um tanque de guerra exposto na beira da estrada. Uns 10 km dali há um posto de controle na rodovia em um lugar chamado quebrada Honda, não ví quebrada alguma, nem as Hondas!
É um posto do exército, tivemos que deixar as motos no sol e irmos até um senhor que sentado atrás de sua mesa, revisou nossos documentos, depois anotou os dados manualmente em uma lista. Havia um soldado jovem sentado ali que começou a perguntar sobre o Brasil.
Havia um ar de melancolia naquelas pessoas, talvez por ser um Domingo de Natal...
Quando terminaram os procedimentos, nos despedimos como de costume e fomos ao outro lado da rodovia, pois havia uma lanchonete ali.
Passamos por "uma" soldado muito jovem (quase uma menina) que com ar muito sério nos indicou onde ficava. Como todos os veículos param ali, incluindo os ônibus, há esta lanchonete. Havia uns salgados na vitrine, mas não apareceu ninguém para nos atender. Chegaram algumas pessoas, ficamos todos lá com cara de tontos esperando aparecer algum atendente, depois de muito esperar o André ficou puto e disse para irmos embora, mesmo que aparecesse alguém agora, ele não iria querer nada daquele lugar!
Voltamos a cortar o deserto...
Uns 30 km dali começou a descida da serra para o vale do rio Moquégua, nosso destino deste dia.  Ficamos um bom tempo atrás de um ônibus amarelo e verde que soltava muita fumaça.  Não dava para ultrapassá-lo devido às muitas curvas e a falta de visibilidade.
Depois de um bom tempo o André o ultrapassou, e logo depois eu também.
Terminada a serra entra-se numa reta já dentro do vale (que é uma grande quebrada) onde há muitas plantações, como havia muitos animais na beira da pista, incluindo bois, reduzimos as velocidade.  Eu ia tranquilo observando o lugar quando o FDP do motorista do ônibus em alta velocidade veio pela esquerda e bem ao meu lado meteu a mão na buzina longamente. Quase parei no acostamento de susto, ele fez de
propósito, o André ia na frente há uns 50 metros, e ele fez a mesma coisa outra vez. Ficamos putos com aquele peruano gordão FDP!
Nossa primeira experiência com a "mentalidade peruana ao volante".

Naquele deserto todo, aos pés dos Andes peruanos, o rio Moquégua criou um vale cheio de vida. Na quebrada há inúmeras plantações que incluem até parreiras (produzem vinho lá). Muitas criações de animais, é um oásis comprido ao longo do rio. Desde que se entra no vale até a cidade de Moquégua, roda-se aproximadamente uns 20 km, com verde em ambos os lados da ruta.



Descida da serra para o vale Moquegua

Dentro do vale um Oásis




Entrada para o centro 
Entramos na cidade onde há muitas vans e táxis rodando, a cidade mistura construções bem acabadas com muitas outras sem acabamento. Há uma grande praça na entrada e depois a ruta vira uma avenida que te leva para o centro comercial.  Ficamos meio perdidos e perguntamos para um taxista que nos indicou um hotel atrás do estádio 25 de Novembro.  Fomos até lá e, de fato, na rua dos fundos do estádio há o hotel Colonial com grandes muros e uma enorme porta de madeira, imita um pouco um castelo medieval.
A rua estava vazia, ninguém, paramos na porta e entramos, lá dentro é bem arrumado e amplo, fomos atendidos por uma menina e o preço nos pareceu alto, apesar de que não tínhamos ainda noção de preços no Peru.  Bem, como era cedo, umas 14:00h (havíamos ganhado mais uma hora no Peru devido ao fuso horário 3 horas atrás do Brasil), decidimos procurar um outro lugar para fazermos uma comparação, o André perguntou para a menina se havia outro hotel mais simples próximo dali, ela disse que, praticamente na esquina tinha outro, fomos lá.
Ok, um hotel do nosso jeito, pequeno e simples mas bem arrumado, com garagem  e claro, mais barato!
Nos instalamos, as motos ficaram na garagem que é coberta e onde devem caber dois carros, como não havia nenhum, ficaram à vontade.
Tomamos banho e a recepcionista nos informou que para procurar um restaurante era só pegar um taxi e pedir ao motorista. Nos disse que as corridas de taxi tem preço fixo de 2.5 Soles.
Pegamos um táxi, todos são Toyotas Corolla ou Probox  (modelos bem antigos).  Rapidamente ele nos deixou em um restaurante meio estilo chinês. Lá dentro era bem arrumado, mas não era chinês, só a decoração é que lembrava um pouco. Preços convidativos, pedimos uma grande salada e frango à milanesa, uma delícia, comemos muito bem.


Inca Cola, eu gostei


Ensalda Roseline e Milanesa de Pollo, belo almoço no fim da tarde.


O André disse que parece xixi de lhama
Voltamos para o hotel e ficamos sentados na calçada conversando.

Nossa planilha previa a saída de Arica-Chile e a chegada a Puno-Peru no mesmo dia, eram aproxim. 450 km. Contudo, além das aduanas e a subida dos Andes para o altiplano, tínhamos um outro probleminha. Nos mapas do Peru, na subida de Moquégua para Puno, apareciam duas possibilidades., ir até Desaguadero e depois voltar em direção à Puno, aumentando o caminho em 300 km, porém seguramente por asfalto, ou subir direto cortando em diagonal os Andes.  Um caminho mais lógico, porém com um trecho de serra em terra.  Além disto, havia a dúvida sobre combustível no caminho. Nós não temos problemas em enfrentar terra, contudo devido ao vazamento no amortecedor traseiro da moto do André, decidimos dividir este trecho em dois dias. Foi a decisão mais acertada como iriamos ver no dia seguinte.
Sentados ali conversando, decidimos também novamente arrumarmos umas garrafas PET para gasolina de reserva. Conseguimos algumas em uma lixeira na rua e outras no hotel.
Aproveitamos para descansar, amanhã subimos os Andes novamente.

Rodamos neste dia 230 km em aproxim. 6 horas - Arica - Chile -> Moquégua Peru.
Hotel El Peregrino  Av. Mariscal Nieto, em frente ao estádio Olimpico  - Moquégua Peru.
Hotel Colonial - Calle Estadio Norte 120, Moquegua, Peru
O restaurante Roseline - Urb. Sta. Catalina G-62 - Moquégua - Peru.

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