domingo, 19 de dezembro de 2010

Dia 19/12/2010 - Subindo os Andes (até San Antonio de Los Cobres).

Lá vamos nós outra vez, só que agora deixamos a bagagem "pronta" no quarto.

Na hora do café, eu estava com uma vontade de fazer uma brincadeira de mal gosto com o André,  disse a ele que iríamos chegar na oficina, ela estaria fechada, com uma placa "mudou-se" e no "e-bay' haveria todo tipo de peça de DR à venda.

Brincadeiras à parte, eu estava sim apreensivo com o "resultado" do trabalho, acho que o André também...

Fechamos a conta do hotel mais uma vez, e lá fomos nós pra oficina.  Chegando lá, a mesma estava fechada, hum!    Porém o Sr. Hugo estava lá dentro, pessoa séria, cumpriu o acordo e fez um bom serviço.  O André só não gostou de uma coisa, lavaram a moto dele...

Já por volta das 10:00 h da manhã, estávamos voltando com as duas motos para o hotel, ok vamos subir os Andes hoje!

Uma tranquila manhã de domingo, em uma esquina próxima a Plaza San Martin, vinham a pé na calçada um casal, ele com cara de gringo, ela com cara de Argentina num vestido curto bem leve. Ela nos dirigiu um olhar "matador" e eu pelo Scala Rider, espontâneamente fiz um comentário. O André começou a rir sem parar, eu não disse nada de mais, porém ele insistia que o jeito como eu havia dito, era hilário. Resultado, começamos a rir sem parar, eu nem conseguia mais enxergar a rua, pois meus óculos ficaram molhados, literalmente choramos de rir...

Descansados e de bom humor, nosso moral estava alto.

Colocamos as motos sobre a calçada e calmamente montamos as bagagens, o André sempre termina antes, o que lhe dá tempo para uma conversa.

Fácil para sair de Salta sem trânsito, paramos para abastecer na esquina da Av. Jujuy onde compramos água. Saindo dali, passamos em frente a Moto Cabrera, que diferença da muvuca do dia anterior, e aí é só seguir. A Av. Jujuy vira Av. Paraguai e na Rotonda de Limache vira Av. Kenedy (já como RN-51) à caminho de Campo Quijano, onde logo após, a ruta entra na Quebrada del Toro.


Abastecendo em Salta.
A estrada ao sair de Salta e é bastante agradável quando passa por Campo Quijano, há várias casas grandes tipo chácaras. Logo estávamos margeando o Rio Toro e aí o asfalto acabou !


A Ruta logo após Campo Quijano.

Nos mapas, no GPS e no Google, é asfalto...   Fomos seguindo e logo deu pra perceber que há obras, tudo bem. Passamos por pessoas que estavam se divertindo às margens do rio que tem um leito com muitas pedras.  O visual estava muito bonito e diferente, já dava pra perceber a aridez das montanhas contrastada pela vegetação da quebrada.



Cadê o asfalto do mapa ?


O Trem de Las Nubes passa aí
Em um trecho, estávamos claramente "dentro" do leito do rio, onde está uma bela ponte metálica, por onde passa o "trem de las nubes" rumo à S.A.L.C.

A estrada foi para o leito do Rio Toro.
Depois começaram a aparecer grandes cactus, até que a estrada voltou a ser asfalto e a "Quebrada del Toro" bem evidente, com belas árvores.

Os Cactus.




O Asfalto voltou.

O André configurou meu GPS para mostrar velocidade e altitude na página de navegação.

A estrada começou suavemente a subir, o cenário muito árido, até que chegamos a um caracol onde subimos de uma vez. Salta estava a 1200 m, acho que neste trecho fomos para uns 3000 m.
Daí em diante, só subia.  Nós fomos devagar, curtindo o visual, quando chegamos a uns 3200 m, paramos sob uma cobertura de concreto à beira da estrada, pois parado, o sol arde na pele, andando o vento te esfria muito.





Olha o Trem !

Ventava tanto que tivemos que calçar a máq. fotográfica com pedras
Aqui subimos de uma vez !


Estamos assimilando a altitude...

Alguém mora lá !
Os Andes já estão nos mostrado sua face !


Não é minha barriga, é que estou levando milhares de dólares ali !

E continua subindo !



Apesar do sol, colocamos as jaquetas, e continuamos subindo até que chegamos a Abra Blanca a 4080 m.  Antes mesmo de chegarmos ali, já havíamos descoberto algumas coisas sobre a altitude.

Seu corpo parece mais leve, é fácil "jogar" a perna sobre o banco da moto na hora de subir nela, porém qualquer esforço é cobrado. O cansaço e a falta de fôlego aparecem até se você só caminhar. Devido à isto, começamos a ser muito "econômicos" com os movimentos na hora de tirarmos fotos, além do que começamos a fazer tudo em "câmera lenta".


Ponto mais alto até aqui, observem que já estamos de jaquetas apesar do sol.

Estávamos muito felizes, eu em particular estava já realizando um dos três sonhos: "estar" nos Andes, conhecer o deserto e ver o Pacífico.

Eu já havia cruzado os Andes de avião em duas oportunidades, indo à Santiago no Chile a trabalho. Da janela do avião pude até, na última vez, ver o Aconcágua à distância no horizonte. Porém eu queria cruzar os Andes com meus pés lá!

Estou aqui pensei, falta ar mas sobra satisfação!

Logo após a Abra Blanca, pode-se ver um altiplano, adiante estará SALC, já sabíamos que o asfalto terminaria uns 20 km antes. Já tínhamos experimentado um pouquinho do "rípio" na Quebrada del Toro.  Aqui foi bem legal, o sol brilhava forte, o dia estava lindo.




Começa o "Ripio" de novo.



Dois bichos estranhos né ?
Ilhama preguiçosa
Um belo horizonte semi-árido
Começam as enormes retas da Ruta 51
San Antônio fica em uma baixada, daí que se pode ver toda a "cidade" da estrada. Eu não tinha nenhuma expectativa sobre o lugar além de encontrarmos um lugar para dormir e gasolina para as motos.
As ruas do vilarejo são todas de terrão batido, fomos entrando em direção à uma enorme antena parabólica, bem em frente a mesma tem um hotel.  Fomos até lá e na frente haviam umas 4 motos estacionadas. Todas preparadas para trilha, uma delas era uma XT 600E e outra uma Tornado, as demais não lembro.


Chegando a S.A.L.C.




Entramos e que surpresa!  O hotel é muito bom,  o hall se mistura com o restaurante, por isto há mesas e sofás distribuídos em torno de uma grande lareira.  Tudo muito bem acabado em madeira envernizada.  Não é caro, por tudo o que oferece, tem até internet!   Por isto existe a tal antena.

Ví o pessoal das motos em uma mesa almoçando, todos com roupas e botas de trilha, fiz uma saudação à distância que eles responderam.

Quando voltamos para a rua e começamos a soltar a bagagem das motos, eles apareceram e começamos a conversar.  Todos eles Argentinos, estavam fazendo o "passeio" que o Marcelo tinha nos sugerido, subiram por Cachi e passaram por Abra el Acay a 4850 metros!
Estavam curiosos sobre nossas motos, nunca tinham visto DR-RSE.  Todos estavam com folhas de coca na boca, o piloto da XT explicou que, pega-se umas três folhas, dobra-se e coloca-se no canto da boca. Não se deve mascar, apenas deixar ali que naturalmente a saliva vai produzindo um chá. Nos falou do Paso de Sico e da quantidade de "calamitas" ou "calaminas" (costelas de vaca).

Eles tiraram fotos conosco, queriam também registrar as DR.
Na entrada do hotel, havia duas senhoras sentadas vendendo artesanato, foi aí que o Scooby ganhou duas companheiras.


Olha a cara do Scooby pra Ilhama !   Ele se deu bem...


O recepcionista do hotel, cara gente boa,  e sua mãe.
Fomos bem devagar, tirando as bagagens e levando uma a uma para o quarto do hotel.
Quando terminamos, sentamos em uma mesa bem alta no lobby e comemos "empanadas", que estavam deliciosas. Havia um casal de Italianos que estavam cruzando por ali em uma pickup.
Conversamos bastante, ele disse que não conhecia o Brasil, ao que parece não fazia muita questão, segundo ele, odeia calor e não pode tomar sol. De fato, os dois tanto ele como ela, chegam a ser côr de rosa, de tão branquelos. Ela, uma senhora muito tímida que escondia o rosto quando ria.

Saímos eu e o André para abastecermos as motos e visitarmos o viaduto "La Polvorilla".


Abastecendo para irmos ao viaduto.
Um pouquinho de história:
A linha férrea ligando Salta - Arg. e Antofagasta - Chile. começou a ser construída em 1923 e só foi inaugurada em 1948!  O Viaduto La Polvorrilla foi construído entre 1946 e 1948.
Este viaduto é o ponto mais alto da linha a 4200 m de altitude. A linha atualmente é apenas turística, o "Tren de Las Nubes" parte de Salta 08:30h e vai somente até o viaduto, de onde volta retornando a Salta somente às 23:00 h. Este passeio é operado entre os meses de Abril e Dezembro.  Lá em Salta nos disseram que a última viagem do ano havia ocorrido na semana anterior.  Que pena!   Aliás, o trem sobe pela Quebrada del Toro e pelas pontes e cruzamentos que aparecem nas nossas fotos.

O posto de gasolina de SALC, não é bem um posto, são duas velhas bombas ao relento, não se vê ninguém até que um sujeito muito econômico com as palavras, surge de dentro de uma casinha.

Abastecemos e fomos rumo à Ruta 51, o tempo ficou nublado e até parecia que iria chover.
Saímos por uma rua larga de terra, por ali iam dois sujeitos cambaleantes abraçados, estavam "borrachos" no meu entender.  Adivinhem onde entraram?  No quartel da Gendarmeria (exército) aquele que o Alejandro tinha indicado como opção para estadia.  O lugar é bem arrumado, os dois estavam a "paisana".
Final de tarde num Domingo, acho que a diversão por ali é virar o caneco!

Seguimos pela Ruta 51 e conseguimos achar fácil a saída para o viaduto, uns 15 km depois de SALC.
Ai trafega-se por uma serrinha, partimos de 3800 m e subimos a mais de 4300 m, até chegarmos aos pés do viaduto a 4100 m. No caminho um cemitério típico dos Andes, que segundo uma placa era o cemitério de uma mina.  Não sei se por causa do céu nublado, mas o lugar parecia muito triste.




O céu fechou !




Cemitério típico dos Andes.


Ei-lo La Polvorilla


Não cabe na foto


60 metros de altura, 265 de comprimento, lá em cima 4200 m de altitude.



André olhando a "escadinha", vamos lá em cima ?
Os burricos que moram aos pés do viaduto




Esta foto, achei na internet, é o que se vê lá de cima

Chegamos à parte de baixo do viaduto, pela "lendária" Ruta 40 (só passa o trem lá em cima) .
Sim a ruta 40, aquela que começa lá na PQP do sul da Argentina, passa aqui sob o viaduto e vai até a divisa com a Bolívia, seu ponto final ao norte, passando antes pelo Paso de Jama,

Engraçada esta questão da imagem mental, eu tinha imaginado Salta nublada e sem graça, tinha imaginado aqui num lindo dia de céu azul !    Se bem que, quando chegamos à SALC, o dia estava lindo, mas agora tinha mudado radicalmente.

O viaduto é mesmo impressionante, só faltou mesmo o trem lá em cima!
Em um dos lados da ruta, uma escada em zigue-zague sobe até lá na linha do trem.
Pensamos em subir, mas em 2 segundos desistimos, só de descer das motos já cansava, estávamos a 4100 m de altitude.  Imagina subir aquela bagaça!   Desmaiava nos primeiros 50 metros.
Confesso que fiquei frustrado, mas foi melhor assim, prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, e afinal, amanhã será o "grande dia".  O Paso de Sico nos espera!

Ali não havia ninguém além de nós e uns "burrinhos" soltos que nos observavam desconfiados.
Depois das fotos começamos a volta, estávamos visivelmente cansados.
Na volta vimos as "Termas de Pompeya" (ruínas onde há água quente) ali próximo existem os vulcões "Negro de Chorrilhos" e "Tuzgle". Nem fizemos menção de irmos lá ver.

Quando voltamos a SALC, eu quis ir até os galpões abandonados da linha férrea, queria tirar uma foto.
Eu já tinha visto uma na internet com um jipe, achei que com a Suzi iria ficar legal e ficou!


Um servicinho com a Suzi.

Serviço terminado !

Parece que vai chover, só parece !

Eu fiquei entusiasmado com a brincadeira e já ia esquecendo de algo importante, mas que o André tratou de me lembrar. Precisamos de garrafas PET para gasolina.
Em uma das ruas achamos uma vendinha, tentamos ganhar umas garrafas na faixa, mas eles não tinham, porém nos arrumaram um galão plástico, por segurança compramos duas garrafas de Coca-cola de 3 litros.

Voltamos ao hotel, pois tínhamos que nos livrar da coca-cola, perguntei a uma menina que estava lá na porta, pois sempre tinha alguém vendendo algo, ela não me entendia, até que saiu correndo.

Logo a seguir apareceu a gurizada com garrafas nas mãos, foi a festa da coca-cola!


Festa da Coca-Cola !

Tentamos conseguir mais garrafas, e o recepcionista do hotel, sempre prestativo, nos arrumou 8 garrafinhas de 250 ml.  O André não queria usar o galão, pois a tampa não vedava direito.

Fomos ao posto, enchemos os tanques e tudo o que tínhamos, incluindo o galão, ainda bem...
Esqueci de dizer que na Argentina há três tipos de gasolina, nós sempre usamos a mais barata que, pelo que vi era amarela. Aqui em SALC, só tinha a especial XXI, que descobrimos ser azul.


Gasolina azul.




Gasolina onde cabia, que venha o Paso de Sico !

O hotel.
Chegando ao hotel, tínhamos o problema de guardar toda aquela gasolina, no quarto nem pensar.
Novamente, o recepcionista nos ajudou e colocamos na área de serviços lá fora, próximo aos botijões de gás.  Eu tonto, fiquei preocupado em deixar a gasolina ali, mas o André me lembrou, é tudo combustível mesmo...    Bem, se tiver que explodir, pelo menos vai explodir bonito, pensei...

Estacionamos as motos sob uma cobertura, e depois de tomarmos banho jantamos no hotel mesmo.
Não me lembro o que comemos, só me lembro que era muito bom, mas não era barato.

Depois de colocarmos toda a parafernália eletrônica pra carregar, fomos dormir.

Boa noite, boa noite...      Boa noite o cacete!

Não deu cinco minutos, meu coração parecia o John  Bonham tocando "Moby Dick"!

Sentei na cama assutado!   O André estava passando pelo mesmo.

O Alejandro tinha razão...  então nos acalmamos e voltamos a tentar dormir.

Não sei quanto tempo depois, acordo com o André aos gritos...  Quando ele finalmente acordou, me disse que teve um pesadelo onde não podia respirar.

Depois disto, eu dormia e acordava escutando o som de uma goteira bem nos meus ouvidos, que estranhamente tinha a mesma frequência do meu coração.

Final de um grande dia, onde vimos muitas coisas, lugares totalmente diferentes e início da primeira noite à 3800 m de altitude.

Rodamos neste dia 210 km em aprox. 5 horas.   Salta Arg -> San Antonio Los Cobres / Polvorilla - Arg.

Hotel de Las Nubes - San Antonio de Los Cobres.
Não sei o endereço, a nota fiscal é da matriz em outra cidade.
Mas não tem como errar, é em frente a antena parabólica.
Habitación doble  290,00 pesos.
Jantar duplo 147,00 pesos.

Tren a Las Nubes
http://www.trenalasnubes.com.ar/

3 comentários:

  1. 1- nao consegui saber nas fotos QUEm é o burrico, kkkkk

    2- gasolina c gas- sei, entendi porque vi a noticia que Hosteria LAs nubes explodiu e ninguem sabia porque, rsrs

    3- casal acordando assutado com pesadelo!!!??? QUE MEEEEEEIIIIIGO!!!!!

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  2. Companheiro, voce poderia informar o comportamento/rendimentos das DR em relação a altitude? Minha Freewind usa o mesmo motor e carburação. Voces fizeram algum ajuste especial para a moto não falhar na altitude? Ou não sofreram com este prolema? e o consumo, como foi?
    Abraço.

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  3. Caro Nelson,

    Nada de especial além de estarmos com os carburadores limpos e regulados e velas novas. Na baixa altitude nossas motos estavam fazendo 22 a 23 km/l, neste trecho de San Antonio a San Pedro (Paso Sico) fizeram média de 17 km/l.
    Não me lembro exatamente, mais o pior consumo foi por volta de 15 km/l no altiplano boliviano.
    No Paso Sico, a velocidade é baixa, no máximo que andamos foi 60 km/h. Já no altiplano boliviano (asfalto) em uma ultrapassagem a moto não passou de 110 km/h (foi a única vez que senti a falta de motor).
    Outro detalhe, estavamos com filtros de ar novos e não os umedecemos com óleo, deixamos os mesmos "sêcos", eu untei com óleo apenas as paredes internas da caixa de ar. Durante a viagem lavamos os filtros com querosene por três vezes (mativemos os filtros sempre limpos).
    Em nenhum momento tivemos problemas como a moto falhar etc, e usamos sempre a gasolina mais barata.
    Abraço

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